De Paulo Nascimento, especial para o Diário de Natal
Um misto de frustração e falta de cuidado pode resumir, da forma mais simplista possível, a situação pela qual passaram policiais militares da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam) e um casal de turistas, que vieram de Curitiba para Natal passar um período de descanso, mas acabaram assaltados e passando mais de seis horas em delegacias na companhia dos assaltantes. E o pior ainda estava por vir: assistiram a dupla de assaltantes sair pela porta da frente da delegacia, sem sequer terem passado pela carceragem ou até mesmo terem o registro do roubo feito.
O que parece uma história de ficção passou-se durante a tarde e a noite da última quarta-feira com o casal Gicelle Trevisan e Gérson Luis Fernandes e com o soldado João Maria da Silva, que foi um dos policiais militares que prenderam a dupla de assaltantes. O casal passeava nas proximidades do Forte dos Reis Magos quando foi abordado por Jorge Luis de Lima, de 18 anos, e um jovem de 15 anos, ambos armados com facas, que foram colocadas na barriga dos turistas. A dupla terminou levando todos os pertences do casal, como máquina digital, cartões de crédito, documentos e celulares, mas acabou sendo presa minutos depois. "Encontramos os dois no meio do manguezal, ainda com todo o produto do roubo, poucos minutos após o assalto ter acontecido", conta o soldado João.
Após a prisão, os policiais da Rocam, com o auxílio de viaturas da Companhia de Polícia de Turismo (Cptur), como é de praxe, levaram os assaltantes para a Delegacia Especializada em Assistência ao Turista (Deatur). Ao chegarem ao local, por volta das 16h30, o delegado não estava no local, apesar do turno da delegacia ser até as 18h. "Nos disseram que o crime teria que ser registrado na DEA (Delegacia Especializada em Atendimento de Adolescentes), por ter um adolescente preso. Quando chegamos lá, estava tudo fechado", contou o PM. E a cada passo, aumentava a via crucis dos policiais e do casal assaltado, que retornoupara Curitiba na manhã de ontem.
Já por volta das 18h30, todos - presos, turistas e policiais - chegaram à Delegacia de Plantão da Zona Sul, onde, finalmente, poderia ser lavrado o flagrante do delito e a dupla terminaria presa pelo assalto. Mas, o que seria comum e certo acabou não acontecendo. O delegado que estava no plantão recusou-se a lavrar o flagrante. Assim como os agentes penitenciários que tomavam conta da carceragem da delegacia, que no momento alojava aproximadamente 80 homens, afirmaram que não iriam receber mais um preso. "O delegado Custódio Arraes nos informou que estava cumprindo ordens superiores, por isso não lavrou o flagrante. Nós tínhamos a materialidade do furto, os acusados presos e as vítimas, mas ainda assim eles não foram presos", lamenta o policial militar.
A única solução encontrada pelos policiais foi soltar a dupla, já por volta das 22h, cerca de seis horas após a prisão ter acontecido. "Nunca vi, em todos os meus 18 anos de Polícia Militar, um preso em flagrante sair pela porta da frente, sem sequer o boletim de ocorrência ter sido registrado. Ainda foi recomendado que eu e os outros policiais ficássemos fazendo a custódia do preso até a delegacia do turista, abrir às 8h da manhã. Só espero que alguém tome uma providência sobre isso", afirmou o soldado João Maria.
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