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sábado, 13 de dezembro de 2008

Trajetória da banda de Acari contada em DVD

E lá aportam os soldados em marcha-desfile pelas ruas e becos da cidade. A sincronia é regra. A farda evidencia o coletivo do regime. Mas as armas são instrumentos: clarinetes, carrilhões sinfônicos, fagotes, violinos, flautas doces a adocicar rastros de música. É a Filarmônica Maestro Felinto Lúcio Dantas - patrimônio cultural e sentimental dos seridoenses de Acari a carregar tradições seculares. A Banda está presente na cidade desde 1927, antes mesmo de sua fundação, em 11 de abril de 1933. É a sonoridade viva das nostalgias, saudades e vivências do povo acariense, agora materializada não só na afeição mais pura de Acari, mas também no DVD intitulado Prosa e Música.

O DVD conta a trajetória da Filarmônica - uma história viva de devoção, determinação e religiosidade. O material gráfico é bem cuidado; traz registros preciosos como a imagem da primeira Banda de Música de Acari, fundada por Felinto Lúcio. O conteúdo retrata o quão presente a Banda está na cultura e no cotidiano acariense. O som da Filarmônica é estritamente relacionado à devoção à padroeira da cidade: Nossa Senhora da Guia. Sobretudo no mês de agosto, as cenas se repetem: são alvoradas, retretas, salvas, novenas e procissões à santa acompanhada dos 48 músicos, desde os 10 anos do novato Túlio, aos 65 anos do experiente aposentado Gata. A tradição é evidenciada nos gestos suaves do maestro Netinho de Pinta, filho do primeiro maestro da banda, Mestre Pinta, ou mesmo rosto ainda infantil de Francisco, o filho de Netinho, já entusiasmado com a música.

Em Acari, a Filarmônica é filha da cidade. Talvez mãe. Fato é que parece íntima de cada morador. Crianças e idosos, como o contramestre de honra da Filarmônica, seo Cícero Pereira de Araújo, incorporam a figura do maestro como quem sonha ser grande um dia: comandante do exército da música. Depoimentos emocionados como o de dona Chica do Carrasco mostra o carinho da populaça com a Banda. As imagens do DVD são muito felizes ao coletar apresentações em cenários históricos e representativos da cidade, como a casa-grande e o terreiro da fazenda Imburanas; o coreto da praça; uma imagem deslumbrante da canção El Toreador, ao lado da sangria do gigantesco açude Gargalheiras; também no museu histórico que um dia foi sede da Banda, mesmo sendo o térreo o cárcere público e os presos contemplados com a mais fina música.

A direção do DVD ficou sob responsabilidade de um filho legítimo de Acari, o empresário Heraldo Palmeira. O roteiro parece seguir reminiscências infantis das lembranças de Heraldo. O material guarda muito de nostalgia. O som da Filarmônica é sonoridade de saudade aos filhos de Acari que moram longe. Talvez dom Eugênio queira afirmar isso ao comentar que “a Filarmônica é um patrimônio de Acari que se expanda para outros prados”. E foge porque o erudito também é popular e cantam coisas de amor, como A Banda, de Chico Buarque, mesmo sob adversidades, seja em anos tumultuados pintados de cinza pelo chumbo, ou pelos chãos esturricados, pintados de laranja. É quando a “gente sofrida” se despede da dor pra ver a banda passar.

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